Erros no Processamento e Leitura dos Cartões em Gel – Pipetagem

23, January de 2021

Há diversos fatores que podem ocasionar um erro no processamento e leitura dos cartões em gel, neste post vamos entender o que pode impactar na leitura do resultado correto, e descrever sobre o erro de pipetagem, para saber mais sobre os outros tipos de erros vejo os outros posts no nosso blog.

Abaixo temos um diagrama de Ishikawa onde levantamos todos os possiveis erros que podem ocorrer no processamento e leitura dos cartões em gel:

*MA = Meio Ambiente

PIPETAGEM INCORRETA

A pipeta é um material de alta precisão e um dos itens mais utilizado no laboratório, sua função é captar uma quantidade precisa de um líquido e transferir para outro lugar.

Ao observar alguém trabalhando, a ação de pipetar parece ser muito simples: regular o volume na pipeta, prender a ponteira, aspirar o reagente, desprezar o líquido no tubo ou cartão, e desprezar a ponteira no descarpack. Mas a pipetagem é um bom exemplo de porque não se deve menosprezar o impacto que pequenas boas práticas de manuseio podem ter ao final de um procedimento, especialmente quando os volumes envolvidos no preparo de uma solução são pequenos.

Existem vários tipos de pipeta.

A mais comum e mais barata é a Pipeta Pasteur, feita de plástico, possui graduações na lateral, e operacionalidade dela é similar a um conta gotas: o volume absorvido e desprezado é controlado pela pressão que o colaborador faz no “êmbolo” com sua mão. As pipetas Pasteur são mais utilizadas em etapas do processo que o volume desprezado não é tão crítico (Ex.: uma “gota”).

As pipetas automáticas e micropipetas são instrumentos de alta precisão, demandam cuidados especiais com o armazenamento, além de calibragem e revisão periódica, para que absorvam e desprezem o volume exato que é escolhido pelo colaborador. Quando o usuário programa o volume no visor, o pistão é calibrado para expelir o ar (ao apertar o botão) e gerar um vácuo na ponteira que corresponde ao volume de líquido desejado5. A acurácia desta etapa é fundamental para o sucesso da reação.

Parte desse sucesso contudo não está no equipamento, mas nas mãos do usuário e sua atenção em atentar para as boas práticas. São elas:

  • ARMAZENAMENTO VERTICAL: retornar a pipeta ao suporte (mantendo ou não a ponteira) não é um exagero de organização mas uma boa prática que previne o contato com superfícies contaminadas e contaminação cruzada, caso o líquido residual na ponteira do processo anterior toque a base de encaixe e/ou escorra para dentro do equipamento¹;
  • PRÉ-ENXAGUE DA PONTEIRA: o colaborador precisa absorver e desprezar ao menos duas vezes o líquido ANTES de absorver o volume que pretende usar. Esta ação condiciona a parte interna e previne que uma porção do volume fique retida na ponta, evitando que seja desprezado um volume menor que o desejado. Essa ação ganha maior importância em testes de Biologia Molecular, onde os volumes utilizados estão na faixa de microlitros, logo, cada gota conta.
  • ÂNGULO E PROFUNDIDADE: A pipeta deve ser inserida verticalmente, e a aspiração também deve ser realizada verticalmente. Ângulos de aspiração maiores que 20° resultam na aspiração de mais líquido mesmo com a calibração do equipamento. Para volumes micro, a profundidade deve estar entre 2-3 mm e para volumes macro a profundidade deve estar entre 5-6 mm, a imersão correta aumenta em até 5% a acurácia e evita a aspiração de bolhas de ar. Imergir em demasia e angular a pipeta aumenta em até 3 vezes a imprecisão do volume aspirado.²,4
  • ATENÇÃO: O botão das pipetas possuem duas fases, a primeira é a aspiração e a segunda é a de desprezo da solução. Apertar o botão até a fase 1, imergir a ponta, soltar para aspirar, e apertar o botão até o final (fase 2) com a ponta da ponteira encostada na parede do recipiente permite a liberação até a última gota do volume aspirado. IMPORTANTE: Note na figura 2 que a pipeta SEMPRE está na posição vertical, é o recipiente que sai da mesa/suporte para que a ponteira encoste na parede.
  • PACIÊNCIA: Não trabalhe com pressa! Esperar o botão voltar à posição inicial antes de retirar a ponteira, prestar atenção nas fases do botão, verificar presença de possíveis coágulos que entupiram a ponteira, desprezar a ponteira após o uso, se por algum motivo a ponteira for reutilizada prestar atenção para tocar apenas na parede do recipiente e não na solução e devolver cada ponteira no recipiente certo, evitando assim a contaminação cruzada.³

Além das boas práticas na ação de pipetar, é importante considerar a escolha adequada da pipeta (vácuo ou pressão positiva), calibração e limpeza periódica do instrumento.

A periodicidade deverá ser definida pela Garantia da Qualidade, levando em consideração a recomendação do fabricante, que tipo de líquido, a que temperatura e viscosidade, onde e o quanto ela é utilizada pelos (e por quantos) colaboradores em sua rotina, bem como as condições de armazenamento da mesma¹. Sendo equipamentos de alta precisão compostos de diversas peças mecânicas, o calor pode desgastar o material (dilatação) e comprometer a calibração.

A notificação de quedas das pipetas, após a troca de componentes, ou uso de ponteiras de outra marca/fabricante (encaixe compatível) também são gatilhos para validação da calibragem.

*Letícia Farias Borges – Engenheira de Produção e pós graduada em Hemoterapia.

 

BIBLIOGRAFIA

1 – Manual “Boas Práticas em Pipetagem” https://lepga.paginas.ufsc.br/files/2017/02/PIPETAGEM-boas-práticas.pdf. Acessado em: 23/01/2021.

2 – Thermofisher. “10 Steps to Improve Pipetting Accuracy” https://www.thermofisher.com/br/en/home/life-science/lab-plasticware-supplies/lab-plasticware-supplies-learning-center/lab-plasticware-supplies-resource-library/fundamentals-of-pipetting/proper-pipetting-techniques/10-steps-to-improve-pipetting-accuracy.html.Acessado em: 23/01/2021.

3 – Thermofisher. “Preventing Cross Contamination” https://www.thermofisher.com/br/en/home/life-science/lab-plasticware-supplies/lab-plasticware-supplies-learning-center/lab-plasticware-supplies-resource-library/fundamentals-of-pipetting/proper-pipetting-techniques/preventing-cross-contamination.html. Acessado em: 23/01/2021.

4 – Mettler Toledo. “Técnicas de Pipetagem para Impulsionar seu Desempenho” https://www.mt.com/br/pt/home/products/pipettes/pipette/pipetting-techniques.html. Acessado em: 23/01/2021.

5 – Kasvi. “Micropipetas: funcionamento, estrutura e sistema de medição” https://kasvi.com.br/micropipeta-funcionamento-estrutura-sistema-medicao/. Acessado em: 23/01/2021.

 

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