Erros no Processamento e Leitura dos Cartões em Gel – Meio Ambiente – Transporte, Temperatura e Armazenamento
Art. 14. O serviço de hemoterapia deve garantir o correto armazenamento dos materiais, insumos e reagentes, de forma a assegurar a manutenção da integridade, de acordo com as instruções do fabricante, com as Boas Práticas de Armazenamento e com a legislação pertinente.
1º O serviço de hemoterapia deve estabelecer procedimentos escritos contemplando critérios de aceitação para o recebimento e de liberação para uso, garantindo a rastreabilidade de lote e validade de todos os materiais e insumos considerados críticos.
(RDC 34/2014)¹
Os cartões e reagentes são materiais delicados. Muitos não podem ser transportados a temperatura ambiente, especialmente em lugares de temperaturas elevadas, e são sensíveis a impacto e agitação.
De forma geral, o transporte desses materiais deve ser realizado em veículos climatizados (~20°C) até o cliente. No ato do recebimento, o responsável deve analisar as condições externas do produto buscando sinais de quedas que possam ter danificado o conteúdo interno, e também analisando quais foram as condições em que esse transporte foi realizado.
Temperaturas baixas ressecam os cartões, que perdem toda a fase líquida. O mesmo fenômeno pode ser observado em centros cujo armazenamento dos cartões era logo abaixo ou muito próximo de uma unidade de ar condicionado. Temperaturas elevadas desnaturam a proteína presente nos cartões, tais temperaturas podem ser facilmente atingidas durante o período de transporte no verão, ou, em locais de armazenamento que recebem forte incidência solar.
Ademais, a despeito de todos os cuidados dispensados pelo fabricante enquanto o produto estava na fábrica, a movimentação desse material do estoque até as mãos do controle de qualidade do banco de sangue frequentemente é feito por terceiros que desconhecem o conteúdo da carga. Não é uma questão de má fé por parte do transportador, ou medo do funcionário reportar um incidente e ser penalizado por isso, e sim um total desconhecimento do que pode ou não impactar na integridade do material.
O motorista sabe que deve reportar caso sofra um acidente com a carga? Ele sabe que em um dia de trânsito intenso no verão o baú ou o porta malas pode facilmente chegar a mais de 50°C e toda a carga pode ser perdida? O responsável pelo estoque do hospital (cliente) sabe que não pode movimentar as caixas fazendo lançamentos e que não pode ficar perto do ar condicionado? Ou ficar horas a fio debaixo do sol até ser enviado ao CQ? Será que todas essas medidas foram observadas nos aeroportos e navios?
O líquido e a fase gel ficam turvas ou mudam de cor quando a proteína desnatura por aquecimento, ou quando foram contaminadas por uma bactéria, graças a uma possível rachadura ou violação de lacre.²
As caixas precisam ser transportadas na posição indicada, caso contrário o conteúdo pode virar (foto) ou até mesmo quebrar os recipientes. Esta recomendação é válida principalmente para os reagentes que são enviados em vidros, os fabricantes costumam atentar para os detalhes do transporte e enviar o material em cases de acondicionamento, que recebem o impacto e preservam a integridade do produto para a maioria dos choques laterais, mas se a caixa for transportada de ponta cabeça o produto pode sair do case e acertar os demais.
Cartão em gel mostrando em vermelho gotas do reagente espalhadas nos poços, e em verde uma clara distinção entre fase líquida do reagente e gel
*Letícia Farias Borges – Engenheira de Produção e pós graduada em Hemoterapia.
BIBLIOGRAFIA
1 – ANVISA. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução da diretoria colegiada- RDC nº 34, de 11 de Junho de 2014. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2867975/%281%29RDC_34_2014_COMP.pdf/ddd1d629-50a5-4c5b-a3e0-db9ab782f44a. Acessado em: 24/07/2020.
2 – Tulip Diagnostics Ltda. Matrix Neutral Gel Card. Disponível em: http://www.tulipgroup.com/Tulip_New/html/pack_inserts/Matrix_Neutral_Gel_Card.pdf . Acessado em 21/08/2020.